Um piloto vencedor precisa de garra, determinação, técnica e arrojo. Calcular friamente cada momento de sua apresentação, cada curva no circuito, o ângulo correto, aceleração, forças ‘G” , enfim todos os comandos ajustados e afinados para o êxito de sua performance. Mas por trás de um vencedor há também uma equipe . Engenheiros, técnicos e mecânicos empenhados em entregar ao piloto a máquina vencedora, preparada e “calibrada” para que, naqueles escassos  57, 58 segundos o piloto consiga extrair dela o melhor desempenho e na somatória das capacidades máquina/piloto se alcance a vitória.

A vitória de Paul Bonhomme , alcançada na edição de Abu Dabhi teve um grande nome, além do piloto:

Paulo Iscold,  Doutor em Engenharia Mecânica pela UFMG, professor do Centro de Estudos Aeronáuticos, CEA – UFMG. Sua cátedra abrange o Projeto de Aeronaves, Cálculos Aerodinâmicos e Estruturais de Aeronaves e Ensaios em vôo.

Atualmente envolvido com o Projeto Anequim, um avião acrobático  totalmente projetado e construído em Belo Horizonte , o professor aproveitou parte de suas férias e foi a Abu Dhabi dar sua contribuição a equipe Bonhomme. Tendo já trabalhado com a equipe na competição de 2010, ocasião em que introduziu algumas mudanças aerodinâmicas na aeronave, Iscold desta vez atuou na previsão do melhor percurso para o piloto, utilizando-se dos parâmetros de peso aeronave/piloto + performance do avião + percurso + linha de segurança. Juntando todas estas variáveis em seu notebook o professor calculava para o piloto a linha de vôo ideal para cumprir o trajeto no menor tempo possível, sem atingir a linha de penalidades.

Paul Bonhomme passou facilmente pelo Top 12, foi cauteloso com a linha de segurança e passou apertado no Top 8 e momentos antes do seu vôo final no Top 4,  Iscold  mostrou-lhe no Google earth um local específico no mapa, que seria sua referência em um determinado ponto do circuito. O ponto era um prédio com duas torres e uma ponte unindo-as. Ali era o ponto chave onde o piloto poderia ganhar os décimos de segundo necessários para superar os oponentes. Bonhomme, que durante toda a competição sempre esteve atrás dos primeiros colocados acreditou no professor , cumpriu o circuito como antes e no ponto determinado efetuou a correção exatamente como indicado, conquistando assim a vitória na primeira corrida do ano. Um grande retorno , digno de um campeão, mantendo inalterada a sua pressão sobre os rivais.

Parabéns ao Professor Paulo Iscold, nosso engenheiro campeão, um cérebro na alta tecnologia da mais veloz competição do planeta!

 

Texto – Reinaldo Neves

Fotos –  Red Bull Air Race.   Eng Iscold mostrando a Bonhomme seu ponto de referência instantes antes da decoagem e sendo cumprimentado pelo piloto após o pouso. “Esse é o cara” disse o piloto.